“O Egito apreciava o Lótus porque sua flor nunca morre. Também é assim com as pessoas que são amadas. Basta algo insignificante como um som, um nome – duas sílabas, uma alta, a outra suave – para trazer de volta os incontáveis sorrisos e lágrimas, suspiros e sonhos de uma vida humana” (p. 377) A letra da música é um sublime hino de amor a mulher guerreira - A Mulher Da Erva de - José Afonso - Vale escutar -
A Tenda Vermelha é uma epopéia histórico-bíblica, narrada por mulheres e tendo-as como protagonistas. Na realidade trata-se de um hino à condição da mulher, no que ela tem de mais intimo e mais profundo. E também à sua capacidade, não só através da maternidade, de criar novos mundos e de desafiar velhas tradições. Na Bíblia, as mulheres ocupam um lugar à sombra, por isso ficamos privados de sua sensibilidade na descrição dos acontecimentos. Numa narrativa envolvente, Anita Diamant resgata esse olhar feminino e dá vida às personagens bíblicas, recriando o ambiente em que viveram seu cotidiano, suas provações e suas paixões. Filha de Jacó e Lia, Dinah - cuja trajetória é apenas sugerida no Livro do Gênese - é a figura central desta trama, que começa com a história das quatro esposas de Jacó, a quem ela chama de "mães"; Lia, Raquel, Zilpah e Bilah. O amor delas e o legado que lhe transmitem servem de apoio durante a fase de trabalho duro da juventude, no ofício de parteira e na vida nova em uma terra estrangeira.
À medida que cresce, Dinah observa tudo o que se passa no deserto; as conquistas, a rivalidade entre os irmãos, a sensualidade intuída, a aspereza do relacionamento entre os homens, a complexidade dos sentimentos das mulheres, a construção de um povo descrita a partir da saga de um núcleo familiar. De espectadora, ela passa à protagonista, e são seus amores, medos, descobertas e perdas que vão sendo narrados no cenário mais amplo de um mundo bíblico de caravanas, desertos e pastores.
Pelos lábios de Dinah, descobrimos a aventura fantástica de crescer e tornar-se mulher, a origem de alguns mistérios antigos, o dom de ser parteira, os triunfos e tragédias relacionadas com o seu clã, como relatado no Livro do Gêneses - com algumas alterações; afinal, é romanceado e tem como pano de fundo as areias quentes do deserto, e com personagens bíblicas, nunca se torna uma leitura aborrecida ou religiosa, muito pelo contrário. Dinah, a nossa cicerone, é uma mulher de fibra e, justiça seja feita, agrada-nos as suas confidências, relatos de uma vida marcada em igual dose pelo sofrimento e pelo amor, amaldiçoada pela ganância e apaziguada pela bondade. Com um ritmo fluído e uma história comovente e angustiante, a autora construiu um livro fabuloso.
2 comentários:
Enquanto ouvia a música, resolvi fazer uma coisa que ainda não tinha feito, fiquei vendo suas fotos desde a infância, acho que combinou, agora conheço um pouco mais de você.
Abraços a você e as suas obras.
Obrigado Stelinha, por agigantar ainda mais esse processo ilimitado e translúcido de revelações.
Abraços.
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